Problemas de Expressão: 2006-03-12

Problemas de Expressão

Blog anónimo, preenchido com pensamentos, nem sempre inteligentes, mas genuínos. Os que eu não escrevo, são emprestados. Alguns posts tendem para a perversidade, mas só se estiver muito inspirada...

sábado, março 18, 2006

Nas tuas mãos

Nas tuas mãos repousa a minha vida
falta-me um gesto teu para acordar
pássaro triste, asa enfraquecida
sem o teu corpo, o céu para voar
nas tuas mãos deixei a minha vida parar

Se tu soubesses tudo o que eu invento
se adivinhasses quando eu te chamo
amigo, noivo, nardo, irmão, lamento
rosa de ausência que desfolho e amo
se tu soubesses como o tempo é lento esperando

Tu voltarias como o sol na primavera
trazendo molhos de palavras como cravos
trazendo o grito de uma força que se espera
e cheira a ceiva, medronhos bravos

Tu voltarias como a chuva no outono
trazendo molhos de palavras
como nuvens trazendo a calma
que abre as portas para o sonho
trazendo o corpo sabendo a uvas,
tu voltarias cantando

Das minhas mãos renasce a nossa vida
e sei que posso falar-te a toda a hora
basta cantar-te para possuir-te
és o sítio onde o canto se demora
estou a inventar-te e a destruir-te
agora
agora

José Carlos Ary dos Santos (adaptado)

sexta-feira, março 17, 2006

A Humidade Quente da Loucura


É verdade, terrivelmente verdade!
Sinto uma humidade quente nas minhas entranhas quando penso em ti.
Basta ler-te apenas.
E fico sem jeito, ao dar por ela, porque teima em demonstrar quanto podes sobre mim, quanto me desorientas!!
Humidade louca quando o desejo de te sentir entra por mim a dentro até ao mais profundo da alma...
Humidade latejante que te aconchega a mim ao ponto de me inundares...
Humidade saudosa quando me deixas até uma próxima vez!...

Invenção do amor


Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares
à porta dos edifícios públicos
nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado
por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro
que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Um homem e uma mulher
que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio
A descoberta
A estranheza de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher
um cartaz denuncia colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou
A TV anuncia iminente a captura
A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida
na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas
os bombeiros
os elementos da defesa passiva
Todos
decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se
no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los
dominá-los
convencê-los antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Procurem a mulher o homem
que num bar de hotel se encontraram
numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa
tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua.

Daniel Filipe (adaptado)

terça-feira, março 14, 2006

Sobrevivência


Queria despir a pele de hoje, arrancá-la por completo até não sobrar nada de mim.
Queria mergulhar em águas cristalinas e aí permanecer até não mais sentir que existo.
Queria que hoje e amanhã fossem substituídos por depois, muito depois.
Queria apagar palavras que doem porque não escondem verdades.
Queria riscar, partir, rasgar, destruir, ocultar, matar, porque me envergonham.
Queria renascer e ser eu, outra.

segunda-feira, março 13, 2006

A um homem de força


A força de um homem não é vista na largura de seus ombros
Vê-se na largura de braços que o rodeiam.

A força de um homem não está no tom profundo de sua voz.
Está nas palavras delicadas que sussurra.

A força de um homem não é medida por quantos amigos ele tem.
É medida no quanto é um bom amigo com seus filhos.

A força de um homem não está em como é respeitado no trabalho.
Está em como é respeitado no repouso.

A força de um homem não está no cabelo em seu peito.
Está no coração que se encontra dentro de seu peito.

A força de um homem não está em quantas mulheres amou.
Está em se ele pode verdadeiramente amar uma mulher.

A força de um homem não está em como duramente bate.
Está em como amorosamente ele toca.

A força de um homem não está no peso que pode levantar.
Está na carga que pode compreender e superar.

Este pequeno texto foi-me enviado por uma pessoa maravilhosa, um verdadeiro homem de força, segundo esta descrição.
A este homem dedico umas palavras com ternura...
Seja qual for o teu caminho,
guia-te sempre por estes conselhos e serás feliz!
Com muito carinho... cá me tens a teu lado.