O Sal

Conheço o sal da tua pele seca depois que o estio se volveu inverno da carne repousando em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos quando das bocas se estreitavam lábios e o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros ou louros ou cinzentos que se enrolam neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos como nas praias o perfume fica quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal da tua língua, o sal dos teus mamilos e o da cintura se encurvando das ancas.
A todo o sal conheço que é só teu, ou é de mim em ti, ou é de ti em mim, um cristalino pó de amantes enlaçados.

Jorge de Sena

Quem ama

(...) quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...

(Fernando Pessoa)

Amanhecer nas Américas

Nem sempre se amanhece do outro lado do mundo...
Dita-me a experiência que as alvas e os pôres-do-sol são distintos mas igualmente belos nos diferentes continentes. A ansiedade não me deixou, portanto, dormir para lá das 6 da manhã!...
Então saí à rua e enfrentei os cruéis trinta graus que já se faziam sentir a essa hora. Do quarto à praia, não demorou dois minutos. Da praia ao mar, apenas um breve instante, mais curto que o próprio desejo. Para secar, um solitário passeio à beira-mar, mergulhando prazenteiramente os pés nas águas mornas e enlouquecendo os sentidos com os jogos do sol e da brisa com o verde, o turquesa e o branco...
Para pena minha, o amanhecer tropical cede rapidamente o seu assento ao astro-rei e a sombra torna-se o lugar mais ansiado.