Para ti

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

Maias

Pássaros de Ferro - Boeing 747

Quem me conhece, sabe que me encontro a atravessar a habitual tensão ante-viagem. Não sei porquê, sempre tive receio de andar de avião. Talvez derive das notícias espectaculares sobre acidentes ocorridos em diversas partes do mundo... O que é certo é que raramente alguém sobrevive! E é isso que torna a notícia espectacular: a tragédia humana, que é passarem umas trezentas almas para o outro lado de uma só vez!! A brincar a brincar, dou comigo a imaginar uma cena do auto da Barca do Inferno, com o diabo e o anjo a escolherem os seus clientes numa fila de espera de várias horas!!! Nem isto me faz sorrir!...

Dizia-me há pouco, ao telefone, um amigo meio chinês, que o melhor é nem pensar no assunto, levar um comprimido bem forte e bater uma boa sorna, se tiver a sorte de ter alguma comodidade. E depois, continuava ele, não são as doze horas de viagem que são problemáticas. A busílis da questão está de facto no momento em que se levanta voo e no momento da aterragem. Com estes argumentos, confesso que não fiquei mais sossegada.

O levantar voo é sempre um stress! Estou na pista parada e, de repente, após uma enorme aceleração, dou comigo a ver o chão cada vez mais distante e o avião sempre a subir... entretanto, poços de ar fazem a máquina perder alguma altitude, o que me provoca um terror desmedido. A aterragem, pelo contrário, costuma ser mais calma (excepto a da Madeira aquando do aeroporto antigo).

Espero, do fundo do coração, voltar a pisar chão português. Tornar a escrever aqui, ver quem eu gosto. Contudo, pelo sim pelo não, informei a minha mãe sobre o local onde guardo os pertences de mais valor. Ela só não sabe que junto a isso segue uma nota que diz "A Prenda é o meu maior bem. Nunca ficarei descansada se não ficarem com ela". (nunca se sabe o que nos guarda o destino!)