segunda-feira, maio 28, 2007
quarta-feira, abril 25, 2007
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
(Ermelinda Duarte)
quinta-feira, março 15, 2007
Deixa o mundo girar
Abre a tua porta
Abre a tua porta
Deixa o mundo girar para o lado que quer
Abre a tua porta
Deixa o mundo girar para o lado que quer
só de passagem
segunda-feira, fevereiro 19, 2007
segunda-feira, janeiro 29, 2007
Pele
Na esperança de ele se encontrar...
Vais contando o tempo quase ao segundo
Parece não querer passar
Fazes de conta que está tudo bem
E andas às voltas quando estás a sós
Gritos mudos que só tu entendes
E por fim Silêncio,
que é a tua voz....!!
Não precisas de te esconder
Ninguém te vai encontrar
O que está escrito na tua pele..
Só tu não decifraste..
Quadro teu.. traço a pincel
A História da tua vida
Escrita, sentida, tatuada na pele..
A tua pele.......és teu, a tua pele....só tu
Quem lá.... escreveu, com a tua permissão
Nem sequer, nem sequer percebeu.... e perdeu..
Passou-lhe a pele por entre as mãos...
Quadro teu.. e traço a pincel
A História da tua vida
Escrita, sentida, tatuada na pele..
A tua pele.......és teu, a tua pele....só tu
Quem lá...., quem lá escreveu, com a tua permissão
Nem sequer, nem sequer percebeu.... e perdeu..
Passou-lhe a pele.... passou-lhe a pele, por entre as mãos.
sábado, janeiro 27, 2007
Deixei de gostar
Já não sinto paixão, nem amor, nem carinho. Também não sinto ódio nem raiva. Apenas me resta um vazio que me dói intensamente.
Não consigo lidar com as tuas demonstrações de afecto, já não sinto prazer ou felicidade quando me tocas ou beijas. Nessas alturas, sinto um enorme desespero porque já não desejo as tuas carícias. Gostava que deixasses de me beijar diariamente quando chegas ou vais e que agisses de forma indiferente, tal como o venho a fazer desde há algum tempo. Não consigo fazer-te entender que esses gestos já deixaram de ter significado para mim. Não suporto mais esta situação.
Tenho pensado muitas vezes na fragilidade da nossa relação. Não é uma situação recente, muito pelo contrário, é um acumular de pequenas e grandes coisas que resultaram neste desenlace.
Tudo isto começou há muito tempo, por culpa de ambos. Talvez por pensarmos que todas as diferenças são superáveis quando duas pessoas pretendem fazer uma vida conjunta. Nem todas as diferenças são superáveis.
No nosso caso, existem dois grandes fossos: a forma como vivemos / queremos viver a vida e a forma como entendemos e vivemos o amor e as relações humanas. Neste último fosso enquadro a nossa visão de família, que é tão distinta. Enquadro também o campo dos afectos e das energias que unem as pessoas.
A minha ideia de família tem como ponto chave o diálogo, o apoio emocional. As pessoas de uma família discutem, ouvem-se, aconselham-se, reflectem sobre as divergências, constróem planos de futuro. Partilham os defeitos e as virtudes e sobretudo aceitam-se como são, porque já assim eram desde o início e porque, na verdade, a essência de uma pessoa não muda jamais.
Nem eu nem tu podemos ser quem não somos. Podemos tentar por uns tempos para agradar ao outro, para iludi-lo, mas nunca se muda verdadeiramente. Esta verdade foi uma enorme falha na nossa relação. Neste momento, procuro-me e não me encontro. Não sou quem realmente sou nem sou quem gostavas que fosse. Nem eu mesma consigo gostar de mim assim. Como podes tu gostar?
A minha essência quer voltar a revelar-se e tem vindo a escapar-se aos poucos de dentro de mim, por muito que a tente conter. E cá estou eu. Sem qualquer castração.
Sou egoísta. Gosto e sempre gostei de ter o meu espaço, onde posso viver a minha solidão e onde me encontro. Preciso de ler, escrever, cantar, dormir, sonhar, chorar, sem ser incomodada. Perdi esse espaço há imenso tempo.
Gosto de satisfazer pequenos prazeres que me fazem sentir bem. Porque não falar com uma amiga durante meia hora ao telefone, ou sair e conversar com alguém que já não encontro há muito tempo, restabelecer antigas amizades, visitar familiares, comprar o livro ou a roupa pela qual me apaixonei? Porque não ir ao restaurante independentemente da época do ano, mesmo sabendo que vou ser mal atendida, se assim o desejo? Porque não ir tomar café a seguir à refeição, nem que seja pelo facto de ver pessoas e encontrar-me no meio delas, mesmo não as conhecendo? Porque não ficar até tarde na praia e esquecer-me dos horários se o posso fazer e me apetece tomar mais um banho ou conversar mais um pouco com os amigos? Porque não ficar mais umas horas na cama ao fim-de-semana, se o corpo pede e nada me obriga a sair de lá?
Sou obstinada. Se posso concretizar uma ideia viável na minha cabeça, porque contrariá-la? Porquê ser vencida mas não convencida?
Sou muito insegura. Sinto muitas vezes falta de confiança em mim própria e desisto facilmente. Preciso de ouvir vezes sem conta uma palavra de apoio para ir em frente.
Sou impulsiva e tomo decisões precipitadas, por vezes, sem reflectir.
Sou emotiva, sentindo a felicidade e o desespero em graus extremos. Nesses momentos preciso de dar e receber atenção, um sorriso e muitos mimos.
Tenho imensos defeitos que não consigo alterar, inerentes a mim mesma, que me conferem um pouco do charme de ser quem sou:
Não sou poupada. Sei que gasto dinheiro em coisas supérfluas que me dão prazer.
Não sei nada de planos de poupança, IVA, IRS, taxas de juro.
Não sei pedir descontos.
Não sei regatear.
Não gosto de regatear.
Não comparo preços para conhecer a melhor relação qualidade/ preço.
Não tenho gostos por marcas de roupa, carros, telemóveis, computadores, televisões. Gosto de comprar aquilo que me atrai e apaixona à primeira vista, independentemente do que seja.
Não sou pontual.
Não sou organizada. Nem arrumada.
Não ando num carro impecavelmente limpo e cheiroso.
Confio sempre nos outros, mesmo que não os conheça bem.
Sou desorientada e distraída.
Acho que sou o centro do universo.
Mas também tenho qualidades que relego sempre para segundo plano. Por vezes até me esqueço delas:
Sou muito afectiva. Dou tempo, beijos, mimos, carícias, atenção. Tudo isto brota intensamente de dentro de mim e sinto necessidade de canalizar para as pessoas a quem me sinto ligada. Não posso reprimir os sentimentos bons ou ficar indiferente quando começam a fluir. Preciso de tocar, conversar, sorrir , beijar, abraçar as pessoas que estimo.
Gosto de ajudar seja quem for, pessoa ou animal. Se precisarem de mim, estou presente, mesmo que isso implique abdicar de um prazer pessoal. Fico feliz com a felicidade dos outros e raramente sinto inveja.
Sou trabalhadora e responsável. Dou de mim o impossível para que as coisas corram bem. Adoro coisas novas, projectos, desafios, criar, construir. Acredito que tornarei a recuperar a minha capacidade criativa, que está esquecida mas que pede intensamente que a desenvolva.
Essa sou eu.
Tu também não consegues representar bem um papel para o qual não foste feito. E se o tens tentado, nos últimos tempos, na esperança ilusória de que tudo possa vir a ser melhor do que foi, enganas-te. Mais uma vez te digo que a essência das pessoas não se altera, lamento.
Nem sempre me dás a atenção de que eu preciso.
Nem sempre me tratas como se eu fosse o centro do mundo. Eu sei que não sou, mas faz-me sentir bem sê-lo para alguém.
O que eu gostava realmente que houvesse em ti?
Mais disponibilidade emocional,
mais interesse pelo que te rodeia,
mais afectos, mais palavras, mais elogios,
mais companheirismo,
mais actividade e mais luta,
mais partilha,
mais alegria,
mais sentido de viver e não se sobreviver,
mais objectivos pessoais,
mais independência e espírito de iniciativa.
Gostaria de ter ouvido, sem te pedir, o quanto era importante na tua vida, o quanto eu te fazia feliz, as qualidades que mais apreciavas em mim e não tanto os defeitos que tão bem e de sobra conheço.
Gostaria de ter sabido em que momento percebeste que me amavas e porquê. Também gostava de saber porque nunca mo quiseste contar.
Teria adorado receber uma flor, ou outra coisa romântica fora das datas convencionais. Uma vez disseste-me que não gostavas de oferecer presentes nas datas festivas. Simplesmente tu não gostavas de oferecer. E por isso nunca o fizeste fora das datas festivas. O que mais me magoa é que até eu perdi o gosto de oferecer, quando o fazia no início sempre que me apetecia. Há quanto tempo não te ofereço nada?
Também queria que tivesses aprendido comigo a comunicar, a transmitir sentimentos. Os beijos e carícias não se trocam apenas na cama nem são meros gestos de cumprimento ou despedida.
E as palavras têm muito peso. Foi um grande erro meu convencer-me do contrário. Elas existem carregadas de significado e devem ser usadas. Eu sou palavra, trabalho com a palavra, divirto-me e passo tempo livre a brincar com ela. A sua importância na minha vida é incondicional. Omitir palavras, escondê-las é negar parte de mim. Cansei-me de esperar pelo “amo-te” e pelo “gosto muito de ti” e mais ainda pelo “estou a teu lado, podes contar comigo sempre”. Compreendo e não condeno as tuas dificuldades de expressão, mas há palavras que, ditas no momento certo, ajudam a aliviar tristezas, a ultrapassar medos e inseguranças. Combatem a solidão. Quando precisei não as tive. E, no entanto, agora elas surgem na tua boca no vão intento de remediar algo que não tem cura. Porque não surgiram antes? Das raras vezes que, em todo este tempo, foram pronunciadas, soaram-me de forma artificial.
Quero ser mãe. Quero partilhar a maternidade com alguém que esteja disposto a sacrificar-se pela família. Quero acreditar que essa pessoa vai estar presente de espírito e corpo nos momentos cruciais.
Não quero promessas de que as coisas vão ser diferentes, pois já não creio nelas. Se tivessem de ser diferentes já teriam sido diferentes.
Os nossos mundos são distintos e tendem a distanciar-se cada vez mais. Não me parece que seja apenas eu a senti-lo. Fingir que não se vê, não se compreende, evitar a realidade, não é solução, apenas um adiamento do problema. Entende que os nossos caminhos se cruzaram para aprendermos um com o outro. Mas esse tempo de aprendizagem terminou e é hora de vivermos novas vidas. Quanto mais depressa, melhor.
sábado, dezembro 30, 2006
domingo, dezembro 24, 2006
Conta uma lenda que, num determinado tempo e lugar, quando a Árvore de Natal ficou pronta, foi admirada pela família e os animais da casa. As aranhas que habitavam o celeiro também quiseram vê-la, mas foram impedidas. Durante a noite, quando todos dormiam, elas entraram por baixo da porta e não só viram a árvore, como subiram pelos seus ramos. Ao amanhecer, o Menino Jesus veio abençoar a árvore, e para sua surpresa viu que ela estava coberta de teias de aranha. Jesus, com seus dedos milagrosos, tocou nos fios da teia e eles ficaram prateados. Por isso, hoje é costume ornamentar a árvore com fios prateados...
segunda-feira, dezembro 18, 2006
Procura-se
Vinicius de Moraes
sábado, dezembro 09, 2006
quinta-feira, dezembro 07, 2006
segunda-feira, dezembro 04, 2006
Daniel Craig... aprovadíssimo!!
quinta-feira, novembro 30, 2006
Encontrar na vida um Doctor House
sábado, novembro 11, 2006
Magusto em Alta Mora
O Dia de S. Martinho foi comemorado em Alta Mora (concelho de Castro Marim), com um passeio pedestre pela Serra, seguido de um almoço na antiga escola EB1.
O passeio, desta vez com 9 quilómetros, foi bastante animado, pois o pessoal habitual tornou a comparecer cheio de energia e boa disposição.
O campo estava lindíssimo graças às chuvas recentes, o céu límpido, o sol no seu auge de beleza! Até os regatos e as ribeiras vieram ver os caminhantes, encabeçados pelo Matias (o gajo porreiro da organização, que tem paciência e gosto por estas coisas) e pelas guias Solange e Inês, as duas “carinhas larocas” mais giras lá do sítio.
O almoço já tão desejado, ao final das duas horas, soube mesmo bem... Umas febrazinhas grelhadas, salsichas, batata frita de pacote, salada e pão da serra com uma cerveja fresquinha no pátio da antiga escola, com vista para os montes... ainda há lugares aprazíveis!!!
As fotos dizem o resto.
domingo, novembro 05, 2006
Uma bela lição de poesia
Sendo adepta de filmes que aos outros pouco dizem, aluguei um intitulado O Tigre e a Neve, realizado e protagonizado pelo Roberto Benigni, de quem já sou fã há alguns tempos, concretamente desde A Vida é Bela. Com alguma perplexidade, nele vim a encontrar aquela lição de poesia que desejaria ter tido nalgum momento da vida. Melhor, desejaria eu mesma ter a força e o prazer de a ensinar da forma como este professor a transmitiu a uma multidão de espectadores:
Vá, despachem-se. Com calma, não tenham pressa. Não comecem logo a escrever poesias de amor, são as mais difíceis, esperem pelos 80 anos.
Escrevam sobre outra coisa: o mar, o vento, o aquecedor, um comboio atrasado! Não há coisas mais poéticas do que outras!...
Perceberam? A poesia não está cá fora, está cá dentro! Não te perguntes o que é a poesia, vê-te ao espelho, a poesia és tu!
Vistam bem a poesia, procurem bem as palavras! Escolham-nas bem! Às vezes são precisos oito meses para encontrar uma única palavra! Escolham! A beleza nasceu quando as pessoas começaram a escolher, já com Adão e Eva! Sabem quanto tempo levou Eva a escolher a folha da figueira certa? Como me ficará esta? E esta? E esta aqui? E desfolhou todas as figueiras do paraíso terrestre.
Apaixonem-se! Se não se apaixonarem, tudo ficará morto. Apaixonem-se e tudo ganha vida, tudo começa a mexer!
Delapidem a alegria, dissipem o júbilo, estejam tristes e taciturnos com exuberância, atirem à cara dos outros a vossa felicidade! (...) Para transmitir felicidade é preciso ser feliz; para transmitir a dor, é preciso ser feliz. Sejam felizes, devem amargar, sentir-se mal, sofrer. Não receiem o sofrimento, toda a gente sofre.
E se não tiverem dinheiro, não se preocupem, basta uma coisa para escrever poesia: tudo!
Perceberam? E não queiram ser modernos, não há coisa mais antiquada que essa. Se uma frase não vos ocorrer nesta posição ou nesta, deitem-se no chão, ponham-se assim. É deitado que se vê o céu! Mas que bonito!... Por que não fiz isto antes?
Para onde estão a olhar? Os poetas não olham, vêem.
Obriguem as palavras a respeitar-vos. Se a palavra “parede” não vos ligar, ignorem-na nos próximos oito anos, que é para ela aprender! O que é isto? Isto é que é beleza, como estes versos, que quero que fiquem ali para sempre!
Apaguem tudo, vá despachem-se. Acabou a aula.
Amigos, estou sem palavras perante isto!
quarta-feira, novembro 01, 2006
Caminhos
Muda de vida, se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
...
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver
(António Variações)
Que vontade de mudar de vida
Tenho
de desaparecer
de fugir
de esfumar-me
Não conhecer
nunca ter visto
nunca ter pisado
nunca ter cheirado ou ouvido.
Que desejo de largar amarras
voar
fazer aquilo que realmente me dá prazer e realiza...
amar livremente
ser realmente feliz
não pensar na imagem
ou na opinião dos outros.
Estou fartinha de viver livre numa prisão.
Mas aos poucos, vou-me libertando.
terça-feira, outubro 24, 2006
Sei-te de Cor
O Paulo Gonzo fica aqui representado na música que as gajas se fartaram de cantar ao final da tarde, depois do pessoal trabalhador ter saído. Escola vazia, para não haver testemunhas da má afinação. Depois das 24 rosas, qualquer coisa é avaliada como Excelente.
Como o poema é lindíssimo, cantemos de novo:
Sei de cor
cada traço do teu rosto, do teu olhar,
cada sombra da tua voz e cada silêncio,
cada gesto que tu faças,
meu amor, sei-te de cor.
sei cada capricho teu e o que não dizes
ou preferes calar, deixa-me adivinhar,
não digas que o louco sou eu,
se for, tanto melhor.
Amor, sei-te de cor.
Sei porque becos te escondes,
sei ao pormenor o teu melhor e o pior.
Sei de ti mais do que queria, numa palavra diria:
sei-te de cor.
Sei cada capricho teu e o que não dizes
ou preferes calar, deixa-me adivinhar,
Não digas que o louco sou eu,
se for, tanto melhor.
Amor, sei-te de cor.
Sei de cor
cada traço do teu rosto, do teu olhar,
cada sombra da tua voz e cada silêncio,
cada gesto que tu faças,
meu amor, sei-te de cor.
quarta-feira, outubro 18, 2006
Cântico Negro
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe.
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
sexta-feira, agosto 25, 2006
amantes infelizes
Porque o que mais há por aí são casos de amantes infelizes...
fica a letra de um fado do Carlos do Carmo, que ouvi a Mariza cantar, no dia 18 de Agosto de 2006, em Faro, no Largo da Sé...
Duas lágrimas de orvalho
Caíram nas minha mãos
Quando te afaguei o rosto
Pobre de mim
Pouco valho
Para te acudir na desgraça
Para te valer no desgosto.
Porque choras não me dizes
Não é preciso dizê-lo
Não dizes
Eu adivinho
Os amantes infelizes
Deveriam ter coragem
Para mudar de caminho
Por amor damos a alma
Damos corpo
Damos tudo
Até cansarmos na jornada
Mas quando a vida se acalma
O que era amor é saudade
E a vida já não é nada.
Se estás a tempo recua
Amordaça o coração
Mata o passado e sorri
Mas se não estás
Continua
Disse-me isto minha mãe
Ao ver-me chorar por ti.
quinta-feira, agosto 17, 2006
Mais um ano
domingo, agosto 13, 2006
Memórias da Escócia
Que dizer destas férias?
Faltam-me as palavras,
quem me dera ser poeta...
Ficam as memórias visuais para os amigos!
Trouxe-vos um pouco da Escócia comigo!...
Bosques em explosão de verde e de castanho...
Glen Coe tem paisagens lindíssimas... Um dos muitos lagos que povoam a região do Great Glen.
Ao anoitecer, Ben Nevis revelou a sua face! Dizem os escoceses que está coberta nove em cada dez dias!...
Um castelo de sonho, na ligação do continente à ilha de Skye.
Eilean Donan é o seu nome, dada a sua situação, erigido no meio de um lago.
Só faltam as brumas...
sábado, julho 22, 2006
Voyage
Au-dessus des vieux volcans
Glisse tes ailes sous le tapis du vent
Voyage Voyage
Éternellement
De nuages en marécages
De vent d'Espagne en pluie d'équateur
Voyage voyage
Vol dans les hauteurs
Au-dessus des capitales
Des idées fatales
Regarde l'océan
Voyage voyage
Plus loin que nuit et le jour
Voyage
Dans l'espace inouï de l'amour
Voyage voyage
Sur l'eau sacrée d'un fleuve indien
Voyage
Et jamais ne reviens
Sur le Gange ou l'Amazone
Chez les blacks chez les sikhs chez les jaunes
Voyage voyage
Dans tout le royaume
Sur les dunes du Sahara
Des îles Fidji au Fuji-Yama
Voyage voyage
Ne t'arrêtes pas
Au-dessus des barbelés
Des cœurs bombardés
Regarde l'océan
Voyage voyage
Plus loin que nuit et le jour
Voyage
Dans l'espace inouï de l'amour
Voyage voyage
Sur l'eau sacrée d'un fleuve indien
Voyage
Et jamais ne reviens
sábado, julho 15, 2006
sexta-feira, julho 14, 2006
Elogio da web
Pesa tanto e a vida é tão breve !
Deixo aqui, hoje, uma frase que foi muito utilizada durante o Mundial 2006, mas que não deverá ser esquecida em momento algum. Devia até ser um lema de vida. Como a memória é curta, fica aqui neste canto para os mais negativos relembrarem...
quarta-feira, julho 12, 2006
Jomba, chefe de secção do Conselho Executivo de Cabo Delgado
Sabendo disso, um colega enviou-me uma entrevista de uma rádio amadora moçambicana que me encheu de gozo, não só pelo falar quente e atrapalhado dos habitantes, mas também pelo interesse do tema! Tenho essa entrevista guardada no meu PC e costumo ouvi-la quando preciso de um momento de boa disposição. Esta noite dei comigo a procurar a deliciosa entrevista, que já ouvi centenas de vezes, até conseguir transcrever na totalidade os diálogos, os quais nem sempre foram fáceis de decifrar!!! Transcrevo-a na íntegra, com a promessa de enviar uma cópia por correio electrónico para quem quiser!
- A minha nome é, chama Jomba!
- Bom dia, primeiro...
- Muito bom dia! Muito bom dia, obrigado. Jomba!
- Jomba é o seu nome.
- É verdade!...
- O que é que o Jomba faz?
- Eu são chefe de secção do merda de Conselho Executivo de Cabo Delgado.
- Mas qual é o seu trabalho? Pode descrever um pouco melhor o seu trabalho?
- Quer dizer... dentro das possibilidades possibilitivas, latrinas melhorado e piorado. A minha trabalho é chefe de secção dos merda, quer dizer, eu anda todo cidades para ver como que estão fazendo a defecação e como que estão fazer o deita fora desses coisa, latrina e mesma coisa e aprender as pessoa que faz a cagação nos praia.
- Mas olhe, vai-me desculpar, falou aí nalguma coisa de melhorado e piorado, eu não percebi muito bem...
- Embora que lá, hábitos de pessoa é um hábito um pouco estranho. Não faz nas latrinas, esse então são os latrina piorado, que caga em qualquer lado, na rua ou aonde, esse é piorado! E depois tem latrina melhorado, aquelas pessoa que tem sentina, vai fazer cocó na sentina dele, esse tá melhorado, mas nosso trabalho é controlar todo esse gente em Cabo Delgado.
- Mas também falou que, por exemplo, há muito desse problema nas zonas das praias, aponto a praia do Wimbe, por exemplo, que está a ficar poluída. Diga-me lá se isso é verdade e o que é que o seu sector tem feito para combater isso?
- Em porquanto, nós não conseguimos fazer nada por causa aqueles população tudo são vizinhos co praia. Eles habitualmente como são nascido um preto de praia, não sei se é uma tipo de alimentação que eles estão dar aos peixes, para desenvolver camarão, como lagosta, como não, que está cheio no Wimbe. Agora nós tentemos tudos de forma, mas não tem uma maneira possibilitiva de fazer isto, sobre do quê, é que população faz sua cagação de noite! E de dia nós estamos controlar mas mesmo assim pessoa dele tem muitos finta por causa ir nos praia. Outro lado tem tipo montanha cos pedra. Ele esconde aí em baixo! Você amanhã só encontra cheio de mina de cocó ali, então pronto! Única maneira, nós também tentamos quando apanhar uma pessoa desse, pode levar ele pagar multa, mas ele num tem dinheiro! Ou mais ou menos vamos fazer uma mobilização de ele comprar latrina, mas também num tem dinheiro!? Problema dele é que também... eu não sei bem dizer... Conselho Executivo não tem dinheiro! Também Câmara Municipal não tem dinheiro!!!...
Lembrem-se do Jomba antes de comerem lagosta na paradisíaca praia do Wimbe!!
segunda-feira, julho 10, 2006
A divertida história de Marley, o pior cão do mundo
Depois de ler a história da vida de Marley, um labrador americano, o pior cão do mundo segundo o dono, resolvi recordar aqui os meus dois cães, Lótus e Prenda, também piores cães do mundo, mas geniais à sua maneira muito peculiar. Com eles vivi e vivo ainda momentos de alegria e tristeza, no dia a dia e no pensamento.
sexta-feira, junho 30, 2006
Quem mexeu no meu queijo????
JOHNSON, Spencer. Quem mexeu no meu queijo?
Este pequeno livro de 100 páginas, letra gorda, leitura fácil e ilustrações devia ser de leitura obrigatória para todos.
Imaginemos um labirinto que representa a nossa vida...
Imaginemos quatro personagens, dois ratos e dois humanos...
Imaginemos um queijo, representação da vida estável, do trabalho, do amor, da saúde, da família, do conforto, da rotina quotidiana, que, sem qualquer explicação, desaparece sem deixar rasto! Não acontece o mesmo em determinados momentos da nossa existência, a cada um de nós? Quem nunca experimentou uma reviravolta de 180º, profunda e traumatizante sem estar preparado para tal?
Sem motivo aparente, o queijo desaparece. Os ratos, seguindo o instinto de sobrevivência, como qualquer animal que se preze, partem de imediato, labirinto fora, à procura do queijo. Mas... e os homens? Como reage a espécie humana à mudança? Como deveria reagir? É esta a problemática tratada nesta obra.
Ao longo dos capítulos comparamos duas reacções distintas: se por um lado existe um tipo de homens que, embora com dificuldade, se adapta às novas condições impostas pelo destino, por outro lado existem também pessoas que rejeitam a mudança e necessitam de apoio para reencontrar o seu caminho.
A mensagem que importa reter é que temos de estar atentos aos sinais de mudança, antecipá-la, e quando ocorrer o inevitável, adaptar-nos o melhor possível, tentando extrair da nova experiência os resultados positivos. Importa também estarmos atentos aos outros, ser pacientes e dar-lhe pistas para, por si próprios descobrirem de novo a sua própria estabilidade.
Assim se processa o nosso crescimento físico, intelectual e espiritual.
segunda-feira, junho 26, 2006
Fado Maior
Num almoço animado, há algumas semanas atrás, lancei uma provocação ao meu amigo meio-chinês. Queria conhecer algo diferente em Lisboa, visto que as minhas curtas visitas raramente davam para ir mais longe do que aos centros comerciais ou ao médico! O meu chinês, sempre pronto a fazer-me as vontades, prometeu levar-me a um sítio nocturno onde eu nunca fora antes...
E pronto, lá estava eu, no Sábado à noite, pelas 9, aguardando a sua chegada no parque do Jardim do Tabaco, local de encontro acordado entre nós.
Entrámos nas ruelas da animada Alfama e subimos até uma típica praceta, decorada com o rigor da época, onde, por fim, parámos à porta de uma casita cuja entrada dizia “Fado Maior”.
- Casa de Fados... já me lixaram! – pensei. Pela expressão do meu cara-metade, a surpresa também não tinha sido muito agradável para ele.
Foi apenas a primeira impressão. Boa mesa (ai as pataniscas!...), guitarra portuguesa a acompanhar a refeição, gente simpática que serviu primeiro e cantou depois. E que bela voz tem a Dona Julieta!!!
Para a noite ser completa, um grupo vizinho animou o serão com poesia. O Celso Brasil foi excelente a declamar com a sua voz sambante!...
Passando a publicidade e sabendo que os donos escolhem os clientes, por que não passam por lá um destes dias?
Mas atenção... Se por acaso a cortina da entrada estiver estendida e as luzes da sala meio apagadas... Silêncio! Que se está a cantar o Fado!...
Margem Sul
Nesta pequena cabana, toda construída de madeira, em jeito de balcão sobre o mar e a praia, passo uma tarde fresca estival. Início de Verão, que ainda teima em não voltar!... A brisa marítima faz chegar à beira-mar um intenso cheiro a maresia e com ele algumas nuvens que pregam partidas aos banhistas. Decididamente não é dia de praia.
Por isso ali estou, a contemplar o horizonte, uma salada na mesa e a leitura recém-adquirida nas mãos. Por trás de mim, a arriba... Ao longe a entrada da barra e o Bugio. E a Serra de Sintra pintada, tal corpo de mulher, em segundo plano, por trás dos prédios ribeirinhos. Que visão!...
Ali sentada, não sinto saudades. Atrai-me a areia da costa, a cor do mar de Setúbal, o repouso inesperado. Esqueço o Sul... Encontro um refúgio aos pés de Lisboa, para surpresa minha, com todos os ingredientes para a paz de espírito. O contraste existe, a contradição, o que torna o quadro ainda mais intenso. E sei que o éden está tão perto e no entanto tão longe!...